30 ANOS APARF “A ÚNICA VERDADE É AMAR”



O doutor da lei perguntou a Jesus qual era o maior mandamento e Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois mandamentos se resume toda a lei e os profetas. (Mat. 22, 34 – 40).
A lei fundamental que sustenta o mundo é a lei do amor. O amor é a maior força do mundo. Por isso, apesar das guerras e dos ódios, a vida continua, porque, como diz Raoul Follereau, o amor sairá vitorioso.
“A Única Verdade é Amar” é o nome do livro que sintetiza, tanto quanto possível, a vida e obra de Raoul Follereau, o inspirador da APARF e de outras instituições congéneres. Porque o amor não é um conceito abstrato ele sobrepõe-se sempre numa relação: com Deus que é a fonte de amor e com os irmãos. Mesmo para aqueles que amam e se dizem sem fé, é da mesma fonte que eles alimentam o seu amor. Não há outra fonte. O amor não é passivo, impele-nos à acção que pode ser através da oração na intimidade com Deus, intercedendo por toda a humanidade como é o caso dos monges de clausura, ou nas relações com os irmãos no auxílio às suas necessidades pessoais e materiais. Assim entendeu Raoul Follereau. Quando teve conhecimento de que havia seres humanos afastados das suas comunidades, a morrerem ao abandono, corroídos pela doença e pela fome, deixou a sua profissão e pôs-se inteiramente ao serviço destes irmãos. Os leprosos ocuparam a sua vida, bem como os pobres famintos. Percorreu o mundo a visitá-los, a levar-lhes o carinho que eles nunca tinham recebido; fez apelos e conferências nos países desenvolvidos em favor daqueles, trabalhou até à exaustão para modificar a situação dos leprosos, escondidos, presos, abandonados. Despertou as consciências para este drama. Apelou às instâncias sanitárias e governamentais para que os leprosos fossem considerados e tratados como os outros doentes e lhes fosse reconhecida e respeitada a sua dignidade humana.
Assim, conseguiu um estatuto para os doentes de lepra e que fosse proclamado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Dia Mundial dos Leprosos. Porque o amor é uma força que irradia juntaram-se a Raoul Follereau milhares de pessoas a apoiar a sua obra e, muito importante, a prossegui-la. Está nesta linha a APARF que há 30 anos desenvolve acções em vários países, no amor aos doentes de lepra e de todas as pessoas vítimas da fome e de outras formas de exclusão. Criada em 1987 por iniciativa dos Missionários Combonianos, a sua história é a mais bela trajectória de quanto pode o amor fazer. Atenta aos gritos dos maiores sofredores, apoia milhares de doentes de lepra e outros, proporcionando-lhes tratamento, alimentação, água potável, agasalhos, habitação, em dezenas de países, em zonas de extrema pobreza. Combate o analfabetismo, apoiando o ensino de crianças e jovens pois, como diz João Paulo II, a ignorância é uma grande forma de pobreza, um obstáculo à promoção da pessoa humana.
De um modo muito sintético e a título indicativo, menciono algumas obras com maior visibilidade realizadas por esta Instituição: construção de Centros de Saúde, habitações para doentes, creches para crianças, escolas, fontenários, fornecimento de meios de transporte para doentes e seus cuidadores; mas o que toca ainda com mais violência o coração da Associação são as refeições dadas a crianças e idosos, exigência sem a qual não se pode viver. Trago à colação o caso dos Gaiatos de Maputo e do seu pai como carinhosamente eles chamavam ao Pe. José Maria: 150 crianças internas e cerca de duas mil das redondezas da Casa, bem como algumas pessoas idosas contam com o alimento diário, subsidiado pela APARF. É maravilhoso. Só vendo!
Na maior parte dos casos a Associação exerce a sua acção no terreno em parceria com missões católicas a quem são confiados, sem dúvida, os maiores donativos. Mas a APARF tem também apoiado, sobretudo em países africanos, voluntários que dedicam um período da sua vida a esta causa.
É justo lembrar alguns que, deixando o conforto da casa e do país, assumiram na pele as agruras do que é ser pobre e doente: Ana Maria Albuquerque, Marta Bernardo, Ana Margarida, Ângelo Bouça, Paulo Bica, Patrícia Lopes, Ricardo Leonardo, Sandra Figueiredo, Anabela Torres, Vanda Barnabé, Albertina Teixeira, Telma Sobral, Ana Maria Santos, Fátima Santos, Marta Faustino, Paula Raimundo …
Igualmente voluntários imprescindíveis são as pessoas que trabalham na sede da Associação, as pessoas que integram os Órgãos Sociais, as que dedicam o seu tempo e forças à recolha de donativos e à sensibilização para a causa, e todas as que partilham os seus bens na prossecução dos fins desta Instituição.
Por isso aqui estamos nós hoje, impelidos pelo amor porque sentimos e sabemos que a única verdade é amar.


Rosa Celeste Ferreira - (Texto apresentado no XII Encontro Nacional da APARF)